sexta-feira, junho 19, 2009

IV PASSEIO CAMPESTRE EM MONTEMOR-O-NOVO - 16 de Maio 2009

Património, Montado, Ervas Medicinais, Moinhos de Água e Vinho!

Foram estes os desafios que nos levaram neste dia á descoderta, deste Alentejo maravilhoso!

Três dezenas e meia de forasteiros, compareceram a esta aventura sempre enriquecedora, partilhando lugares outrora cheios de vida e de sentido, quando o campo era devidamente valorizado e aproveitado, quando a relação de vizinhança era na maioria dos casos mais forte do que a relação familiar, onde os adjectivos solidariedade, amizade, partilha, eram genuínos.


Começámos o Passeio pela Igreja de S.Gens, outrora paróquia da extinta Freguesia com o mesmo nome, famosa pelas suas procissões onde afluiam forasteiros de todo o seu redor, lamentavel é que o seu interior tenha sido votado ao abandono, despojado do seu património, por também as gentes destes montes terem sido obrigados a partir pela falta de condições basicas para aqui continuarem. Mas o belo Relógio de Sol lá no alto da Ermida, continua teimosamente a marcar o ritmo do tempo, mas sem clientes.




Falámos do Montado, onde tentei passar a mensagem da importância deste frágil ecossistema, que a todos nós cabe preservar, manter o seu equilíbrio e sustentabilidade, respeitando a sua regeneração natural, não retirando dele mais do que é permitido, assegurando que o equilibrio entre os seus agentes se mantem naturalmente.






Do Mestre Salgueiro com a juventude invejável das suas 90 primaveras, chegam-nos as palavras sábias de um vida a tratar as plantas por tu, a retirar de cada uma o melhor que tem para a nossa saude, para uma alimentação saudavel, equilibrada e sem excessos.





Ao longo da caminhada surge o moinho do Cosme, tambem este vítima do sinal dos tempos da desertificação do mundo rural, votado ao abandono foram as silvas que tomaram de assalto estas ruínas, que encerram em si tantas histórias da dureza da vida, trabalho de sol a sol, famílias numerosas, mas que tem em comum a imensa alegria das vivências de uma juventude, humilde mas honesta.



Onde os pormenores da vida tinham toda a importância, o espírito de entreajuda era omnipresente, quando uma sardinha tinha que dar para dois ou três, e quando uma família tinha feijão todos há volta tinham feijão, falo do que tive o privilégio de viver neste meio, uma juventude de plena liberdade no infinito da nossa paisagem alentejana, onde a vida nos ensinava a ser homensinhos aos 14-15 anos.





Chegados ao Moinho do Almansor, esperava-nos o ambiente acolhedor de um espaço irrepreensível, cuidado com o carinho especial do Tio Zé da Gaita e esposa, octogenário que aqui nasceu no embalar das quedas de água das comportas, aliviando o açude que através da levada alimentava incessantemente as mós do moinho sedentas de trigo, onde o seu pai matava a fome ás famílias que num rodopio chegavam com o grão de trigo, milho ou centeio, e partiam com a farinha que trocavam, depois de retirada a maquia para o moleiro.





A honestidade destas operações era sagrada, para o bom nome do Moinho, desde o bojardar das mós, até aos segredos da comunicação através do chocalho que dava o sinal que o cereal acabou no taigão, até aos truques de juntar um copo de água para aclarar a farinha, toda esta sabedoria ancestral foi transmitida através de gerações chegando até nós pelo tio Zé da Gaita, que com a sua alegria e boa disposição nos deu uma lição de molinologia, vivida na 1ª pessoa.





O apoio inestimável do Igor, jovem Moldavo que aqui ajuda no embelezamento deste paraízo, no transporte das merendas, no apoio no pic-nic e no transporte das mochilas já mais aliviadas para o local da chegada, foi de vital importância para a conclusão do percurso pelos participantes.


O Pic-Nic foi um excelente momento para pôr á prova as iguarias que cada um trouxe de suas casas, partilhando com os outros a degustação de enchidos, queijos, vinho, doces, licores, frutos secos, ..... que tanta coisa boa a nossa gastronomia metiterrânica oferece, é só ter bom gosto para se servir! E no Alentejo há sempre um bocadinho para a merecida sesta, nem que seja encima da Mó, que luxo!!!!!






Já mais reconfortados partimos para a segunda etapa, dando uma volta de despedida pela quinta, ficaram os agradecimentos aos proprietários deste paraizo tão bem preservado, e aos responsáveis pelo requinte da limpeza e preservação deste espaço o Tio Zé da Gaita e o Igor.



A caminho da Courela do Menir, passamos pela Barragem do Raimundo, onde o meu amigo Zé Matos nos convidou a visitar o seu "Oásis" no meio do Montado, tão bem enquadrado e disimulado na vegetação arborea da linha de água, onde a luxuriante beleza do silêncio deste espaço, só é interrompido pelo cantar do rouxinol.




Aqui funcionou talvez o unico lagar de azeite na região, movido a água, cuja força motriz fazia mover as mós que esmagava a azeitona e apertava nas prensas os capachos com a massa da azeitona, de onde saía a frio o Azeite Dourado, proveniente dos Olivais centenários de variedade Galega, sem duvida a que produz o melhor azeite de todos.


Prosseguindo a caminhada, fomos recebidos com honras de parada, pela manada de bovinos de carne que usufruie das pastagens deste Montado, que nos acompanharam até á saída, tal não foi a admiração que lhe causou esta Procissão por estas paragens.


Chegados á Courela do Guita/Courela do Menir esperáva-nos uma visita guiada pelo Eng. Ricardo Coito pela vinha e á cave onde estageiam os nectares dos deuses. foram-nos revelados alguns dos segredos da vinificação dos vinhos maduros e dos espumantes, área recente de trabalho da Couteiro-Mor. Esta empresa Familiar iniciada á cerca de meio século pelo saudoso Gabriel Francisco, está realmente no bom caminho, inovando, modernizando, aumentando mas sem nunca se afastar do caminho traçado pelo seu fundador, "Crescer sempre de forma sustentável"








Seguiu-se a prova dos vinhos e degustação dos enchidos e queijos da região numa sala divinal, com uma aboboda de rara beleza e mestria, decorada a preceito com artefactos e utensilios que caracterizavam a faina agricola de outros tempos e por troféus de caça, que simbolizam a paixão dos gestores desta casa, por esta arte.




Conto que os participantes não saíram defraudados deste dia partilhado com a Natureza, ficaram mais enriquecidos e sensibilizados para a necessidade de preservar todos os dias, em todas as nossas atitudes esta riqueza o Montado, a paisagem, as gentes, o saber popular de gerações,........!




O meu muito obrigado, em nome da comissão organizadora, ás entidades que tornaram possível esta iniciativa, a Câmara Municipal, ao Ceda, na pessoa do nosso colega de Organização, Dr. Eduardo Raposo, á Montemormel, ao Tio Zé Salgueiro, as proprietárias do Moinho do Almansor, ao tio Zé da Gaita e ao Igor, ao Zé Matos por partilhar connosco o seu Oásis, á Couteiro-Mor na pessoa do seu Gerente, o Eng. Ricardo Couto, e a todos os que deram corpo á iniciativa, bem hajam em prol de um Alentejo mais próspero e produtivo onde os homens tenham o seu lugar, para viver com dignidade.

Um Bem hajam, a partir deste imenso Alentejo que tanto precisa de ser amado e respeitado!