segunda-feira, outubro 15, 2007

Homenagem á minha querida Bisavó Justina!



Este Post, já aguardou mais de 3 meses para entrar, e foi inspirado na brilhante homenagem, feita pela minha amiga cibernauta á sua Avózinha Joaquina!
Foram palavras tão sentidas, vividas, amadas e sofridas!
São estes os frutos genuínos da nossa terra Alentejana. Também andei para trás no tempo, recordando a minha avó Beatriz com quem vivi até aos nove anos no Monte da Casa Branca, voltei ao forno aguardei pela minha merendeira com um "ratinho" dentro, como nós chamavamos ao pedacinho de linguiça ou toucinho dentro da merendeira, que delícia! A pobreza era grande mas o espirito de entreajuda e solidariedade era ainda maior. Também a Avó Beatriz criou 9 filhos, onde os mais velhos tiveram que ajudar a criar os mais novos abdicando de ir á escola, também ela madrinha de dezenas de rapazes e raparigas que ajudou a virem a este mundo.

A foto que mostro, é uma relíquia da minha infância, tirada á 44 anos, 1962.
Reparem o pormenor e o requinte do cenário, uma colcha que a minha tia Gertrudes Calva, desencantou á pressa. Eu ao colo da minha mãe á esquerda, o meu irmão gémeo ao colo da vizinha Joaquina Piriquita, á direita, em baixo o meu primo José Vicente, a minha tia Conceição, a tia Gertrudes e a tia Maria.

Mas a personagem principal da foto é sem margem para dúvidas a "Vó Velhinha" a "Vó Estina", como era conhecida nos Foros de Vale Figueira, onde viveu até á bonita idade de 99 anos e 7 meses, faltavam sómente 5 mezinhos para que as 100 velinhas se acendessem. Tal como a avó Beatriz, e avó Joaquina das minhas amigas Maria Adelaide e da Mirita, esta foi outra verdadeira heroína.

Ficou viúva com 45 anos, quando o meu bisavô ficou debaixo do camião onde seguia agarrado á porta pelo lado de fora, quando este se tombou á curva apertada a descer da Caneira para Lavre, onde ia com uma canastra vender queijos. Ficou com os 9 filhos em casa para acabar de criar, missão que completou com sacrifícios e uma dedicação extrema. Em toda a sua vida foi ao médico 6 vezes, qual de nós se pode gabar de tal proeza, quando ainda nem metade da sua longa vida atravessamos. viveu 55 anos viuva, e sózinha na sua singela casinha, até aos 94 anos, onde todas as manhãs tinha o ritual de ir á fonte encher a sua cantarinha de barro á fonte. Manteve o hábito do bagacinho ao "matabicho" com uma bolachinha "Maria", até aos seus ultimos dias. Ninguém se lembra de alguma vez ter ido á cama, nunca se queixava, adorava comtemplar as brincadeiras dos netos, bisnetos e trisnetos, pois o meu filho era o seu trisneto mais velho.

Partiu sem um suspiro, sem um ai, deitou-se encantada da vida e partiu nos sonhos.
Quem nos dera a todos poder ter uma vida e uma partida com tão elevada dignidade. Obrigado por nos teres ajudado a ser tão felizes, e elevado tão alto, nos sonhos da infância!
Onde quer que estas avózinhas estejam, a nossa singela homenagem, e obrigado pelo seu exemplo de vida, "Assim vale a pena ter Avózinhas,....."
Um beijinho para elas.
Alexandre

5 comentários:

Bichodeconta disse...

Ó Alexandre, que emoção! Em cada palavra lida sinto em mim pedaços de vida , colcha de retalos apanhada á pressa, nesta vida que muitos esquecem de viver.. E digo esquecem, porque a alguns dará até a sensação de grandes qualidade de vida, mas não passam de grandes tardes enfiados em centros comerciais, onde se compra tudo, excepto o que é preciso.. Compra-se o que está em saldo, e o que o marketing quer que vendido seja.. Depois, como eu entendo essa afirmação: Como entendo porque não deixa o nosso Alentejo.. Nos tempos de lazer, é normal ir com o meu companheiro até ao miradouro de Alhandra, é um lugar simples que faz parte do monumento erguido á fortificação das Linhas de Torres.. Dirão que não somos pessoas normais!Pois não seremos: mas estar naquele lugar, escutar o silencio, sentados ou caminhando até ao moinho, por companhia só o horizonte, as árvores, e a nossos pés, a Leziria e o Mouchão a perder de vista.. Lemos, ouvimos música, caminhamos, falamos, rimos e choramos também. Mas sobretudo vivemos!! E regrassamos a casa de alma cheia.. Aqueles lugares são santuários.. Amo a natureza..
E agora voltando atrás: A tia Gertrudes Calva, é a mãe da Rosa! verdade? E a Vitória e o Custódio e o manel e o Pedro ? São todos da família do Alexandre? O mundo cabe na palma da minha mão.. conheço todas essas pessoas.. Mais, conheci essa avó tenho a certeza, Mando um abraço ao neto e família,mando os parabéns pela merecida homenagem que faz á avó..Eu sei que era uma grande avó..E sei como dói perder os que nos são queridos, e nos ajudaram a crescar.. Um abraço, ell

Bichodeconta disse...

Mandei ontem um abraço para Montemor,prova 20Km de Almeirim(Claro que eu só faço a prova dos pequeninos,6,500Km )Seguida de uma sopa da pedra, e bailarico para quem a tanto se atreve depois de tantos kms.. Estava muita gente de Montemor, como sempre.. Renovo hoje o abraço,e retiro-me num esvoaçar por entre as flores..Zzzzzzzzzzzzzzzzzzz Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

João Pirata disse...

Alexandre!
Embora apenas esteja a depositar o meu comentário agora, vi o teu blog logo pela manhã.
Devo dizer que tenho a sorte e a honra de ser teu primo e por isso poder ouvir a tua voz ao ler estas palavras, podendo mesmo imaginar nas quais tu gaguejavas, marca que para mim ainda te torna mais genuíno…
Encheste esta minha rotineira manhã de afectos, cores, cheiros e sons, fazendo-me sentir um certo desconforto infantil por, por vezes, “adiar” esta magnifica família.
Como se ainda fosse possível, continuas a surpreender-me com esta tua capacidade de amar e ver a vida e as coisas, nesta metáfora entre homem e abelhas só ao alcance de poucos.
Obrigado e bem hajas
Espero que o meu Tomás e o António estejam brevemente neste blog

oasis dossonhos disse...

Que homenagem tão bonita a esta avozinha, e que felicidade poder ter crescido ao seu lado. E que imagem tão poética saber que adormeceu num sonho e levitou na ternura que espalhou, sem dor...
Abraço
Luís

Carmen disse...

Que luxo!!!!! Me emociono em cada palavra tua. Já sabes que tenho como minha esta tua relíquia, é como uma foto de minha longíngua família portuguesa. Aliás, em nada diferente da nossa brasileira também. Esta é uma foto de meus avós, se assim você permitir. Afinal, temos o mesmo tronco. Começo a acreditar que o mundo, digo, as pessoas se resumem em apenas 6, e se multiplicam a partir daí. Li isto em algum lugar e o filme Bolero, retrata bem isso. As histórias se repetem.
Mas devo acrescentar que, se não fosse tuas palavras cheias de emoção, vida, entusiasmo, ainda poderia dizer que as fotos falam por si mesma. Portanto, caro amigo, continueeeeeee. Agradecemos antecipadamente.
beijo, Carmen.
P.S.: Adorei o comentário do Bichodeconta. Não fique com ciúmes...hahahahahah